segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

diantedeumbommotivo



A Viagem de Theo, romance das religiões por Catharine Clement, trata de um garoto de 14 anos com uma grave doença, provavelmente incurável. Sua tia, Marthe, resolve levá-lo para viajar pelo mundo. Eles passam por Jerusalém, Cairo, India, Japão, Brasil, Praga... entre outros lugares. O objetivo? Conhecer, aprender e viver um pouco de cada religião. Abaixo, há um trecho editado do livro. Onde Théo, no final de sua viagem, encontra sua avó e conta um pouco sobre sua experiência e o fato de ter sido curado. Ele mostra que a fé provém do sentir, e não de um deus específico. Do acreditar.

O tema já foi abordado aqui anteriormente; mas esse trecho do livro é essencial - aos crentes e aos descrentes.


- Vou te explicar. Escute... Vejo as religiões como os galhos de uma árvore. Uma só árvore grande, com raízes subterrâneas que correm sob a Terra inteira... Depois o tronco sai da terra, bem reto, bem limpo. A árvore é um baobá da África, porque pode-se gravar em sua casca o que bem entender. Leia você mesma: 'Deus existe para o bem do homem'. É o que está escrito no tronco.

Todas as religiões querem reunir e proteger. Para consegui-lo, exigem elas, não se pode desviar um milímetro. Uma árvore tem que ser regada com água limpa. Não se pode fazer xixi nela, nem estragá-la jogando lixo em seu pé. Também não pode haver poluição! Portanto, as religiões se preocupam muito com a pureza. Isso também, a proteção contra a poluição, está no tronco comum. O adubo também, que se chama sacrifício.

Acontece que os primeiros jardineiros de Deus morrem. Os seguintes brigam uns com os outros, parece que é humano. Cada jardineiro tem sua opinião sobre o adubo. Um belo dia, cada um deles publica seu manual de instruções para a manutenção da árvore. Todas as religiões põem-se a defender e a combater. A coisa não funciona mais. E quando, a cada primavera, a árvore volta a dar brotos, cada um dos jardineiros reserva para si um galho, cada um dos quais com seu deus.

Dizem que os jardineiros são enviados de Deus. Aparentemente, têm dicas sobre a árvore, o que eles chamam de revelações. Estiveram no alto da montanha, ou retiraram-se para o deserto, para a floresta, viveram na neve, na areia, longe, em todo caso. São meio malucos e muito sábios... Como um se parece com o outro! Moisés, Jesus, Maomé, Buda, Joseph Smith...

- Deus meu! Você voltou ateu!

- De jeito nenhum! A força do divino eu senti, garanto! Simplesmente, eu a encontrei em toda parte, só isso. As raízes é que falam através dos galhos. Mas se for preciso escolher um galho, então fico atrapalhado! Tenho vontade de subir na árvore. Não muito. Gostaria mesmo é de me instalar num galho meio baixo de onde poderia ficar de olho na hera. Ver o jardineiro trabalhar, dizer-lhe que não pode muito, que serre direito, que não estrague a árvore tirando lascas nela toda.

Também lhe diria que a deixasse em paz na primavera: há um tempo para podar, um tempo para adubar. Eu lhe pediria que não protegesse os galhos com redes ou grades. Que não tirasse os ninhos, mesmo que os passarinhos façam sujeira. A sujeira faz parte da vida árvore.

- Cuidado com o pecado, meu filho. É fácil ser expulso do paraíso!

- É o que Deus tem de chato. Ele é violento demais! Quando não está satisfeito, maneja o raio. É excessivo, convenhamos.

- Quem é você para julgar Deus, seu vermezinho?

- Eu sou somente eu. Está certo, não é grande coisa. Mas se você for lógica, terá que admitir que Deus me criou assim.

- Pois bem, Deus fez poucas e boas!

- Ah! Está vendo? Você também o julga!

- Enfim... quem te curou, Theo?

- Umas pessoas. Bons jardineiros. Existem em toda parte.

- Então não foi Deus?

- Foi a árvore. Posso chamá-la de Deus, se te agrada.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

I believe and how




Não saberia nem por onde começar.

Já faz três dias que vi Paul McCartney no palco e essa anestesia que ele me deixou permanece intacta. Desde que voltei do Morumbi, só consigo fazer uma coisa: ouvir as faixas do show e sorrir enquanto choro com as minhas memórias. Cada minuto do dia 21 de novembro foi precioso. Nos 45 do segundo tempo, McCartney conseguiu transformar 2010 em um ano valioso.

Quando as luzes do estádio se apagaram e surgiu aquela pessoinha com terno azul no palco eu não conseguia acreditar que era ele. Fiquei atônita por alguns minutos. Meu amigo que assistiu o show comigo ainda tentou me chacoalhar enquanto pulava, mas eu estava muito desacreditada pra fazer qualquer coisa. Levei um tempo pra me dar conta do que eu estava presenciando.

Eu cresci ouvindo música. Todo e qualquer tipo de música. Mas graças à papai, Beatles sempre reinou. Em todas as festas, churrascos, banhos de piscina, e em todos os aniversários - independentemente da idade do aniversariante, que fique claro! -, bicho, em qualquer momento... era Beatles na vitrola. Por isso, já na terceira música do show - All My Loving - eu já chorei (sorrindo, claro). Me levou pra um passado feliz.

E assim foi durante as quase três horas de show. Dancei em Drive My Car, me arrepiei em The Long and Winding Road, lembrei de amores passados em My Love. Pulei em Back in the USSR e Paperback Writer, pedi paz ao mundo junto com as bexigas brancas em Give Peace a Chance e vi a vida girar em Live And Let Die. Ganhei minha fé de volta em Let it Be e voltei à um tempo não vivido em Get Back, Day Tripper e Eleanor Rigby.

Mas principalmente: cantei e chorei (como nunca chorei em um show na minha vida!) quando ele fez a homenagem ao George Harrison. Something faz parte da minha vida, da minha história. E pra mim, estar ali naquele momento foi inesquecível. Eu já chorava nos primeiros acordes do ukelele do velhinho (sacanagem chamá-lo de velhinho com o pique que ele tem). Mas quando a banda entra e as fotos dos Beatles gritam pelo telão... INDESCRITÍVEL! Maravilhoso é pouco pro solo de guitarra e pros braços abertos de Paul enquanto imagens dele com George passam logo atrás. Está fora do meu alcance essa tentativa de colocar em palavras o que senti durante esses quatro ou cinco minutos. Resumindo: minha maquiagem borrou. E muito.

E claro, Hey Jude. É hino, não tem jeito. Inicialmente, fiquei aporrinhada de estar na arquibancada e não poder ver o ex-Beatle mais perto. Mas assistir o espetáculo que o público faz NÃO TEM PREÇO. Olhar para aquela multidão de 64 mil pessoas fazendo o clássico coro é arrepiante (quem não gosta do histórico 'naaaaaananana nananana' que atire a primeira pedra - mas atira logo na minha cabeça pra me matar, porque não aguentaria ver isso!). Aliás, se me perguntarem, eu diria que 50% do show quem faz é o povo. É emocionante ver aquele mar de gente com o único objetivo de curtir um som. Me lembro até de um momento, pouco antes do show começar, comentei com a Ana que me arrepia ver tanta gente junta ligada pela música. Nós divagamos no assunto... em como a música tem esse poder de conectar pessoas, momentos, lugares. Em como seria bonito se todos se unissem por outras causas como se unem pela música. (Valeu, Aninha, pelo papo cabeça e viajante... rs!)

Como eu já disse anteriormente, nunca mais vai existir outro Paul McCartney. E não digo ele, especificamente. Mas algum artista como tal, com a sua proporção e história. Alguém que faça um espetáculo como os que ele faz. Porque hoje em dia é muito fácil fazer música. Mais do que fazer, descobrir. Fazer sucesso é coisa simples com tantas possibilidades e tecnologias. Antigamente, sem a atual globalização, internet, youtube; eram poucos os que estavam nas paradas mundiais. E os que estavam fizeram história. E dos poucos que sobreviveram e continuam na ativa... Paul marca gerações! Emocionante é olhar pra frente, pro lado e pra trás e ver gente de todas as idades. Do meu lado esquerdo um casal de 50/60 anos com o filho adolescente. Na minha frente, outro casal com o filhinho de 4 anos (coisa mais linda com camiseta dos Beatles - queria ter tirado foto!). Aborrescentes, adultos, crianças, tiozões e idosos. Todos juntos; e aposto com um tiro no meu pé que uns 80% em lágrimas por presenciar tanta coisa boa.

Porque esse espetáculo tão fantástico e mágico, só é assim por sua história. E eu sou MUITO E IMENSAMENTE FELIZ por ter vivido isso em tempo. Me faz ter o gostinho de viver uma época a qual eu gostaria de ter vivido. Quando as coisas eram mais simples, e tão, mas tão mais valiosas.

Paul McCartney é o cúmulo da simpatia, do pique (o bicho tem mais energia que a velha de 22 anos que vos fala!), da potência vocal, do improviso, da leveza, da doçura. Seriam muitos adjetivos a colocar aqui. Se é tudo ensaiado e igual em todos os shows? Sim, e quem se importa? É UM BEATLE! VIVO! Marcando a vida de 64 mil pessoas.

E eu só sei que por três horas, eu abandonei o mundo fora do Morumbi. Eu esqueci que tenho contas a pagar, decisões a tomar, problemas a resolver. Eu sequer lembrava que tinha que trabalhar no dia seguinte. Por 180 minutos eu voltei a sentir todas as sensações deliciosas que o respirar permite. E que a realidade nos tira com tanta agressão.

Por três horas eu fui de fato e completamente feliz.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

omeiodaschegadasepartidas

"o que te excita mais? a saudade da chegada ou a espera da partida?"

e parando pra pensar - não muito arduamente, confesso - nisso, cheguei à chula conclusão que não importa qual excite mais; eu quero mais é sentir os dois picos. acaba numa roda, não é? se tu te excita com a espera da partida, certo que te excitarás também com a saudade da chegada. se tu não consegues sentir ambos, creio eu que tu não és humano suficiente pra saber o que é sentir falta de um pedaço que é teu e que te foi tirado de forma brusca. pedaço esse de vida que é impossível não viver: a perda.

aí eu me encontro num clichê barato, quase como uma bugiganga da 25 de março: cada escolha é uma renúncia. e se tu estás à espera da partida, certamente estás deixando algo para trás. algo esse que reencontrarás momentos depois de sentires saudade da chegada.

redundância, como eu disse. a roda.
círculo vicioso. pegarás na mão de um, que pega noutra, que segura em mais uma, que se amarra na próxima; até nunca mais chegar o fim.

eu só sei que entre estes dois picos, eu só quero é deixar de sentir fome pela liberdade e o prazer de uma excitação maior que a questionada. eu só quero esquecer da existência de relógios e aparelhos telefônicos. eu quero mais é ser engolida por um momento.

sem racionalizar chegadas ou partidas.
pois estas são as mais insignificantes.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

respostaaumajovemestudante

"Fala-se em modernização, na valorização da mulher como artista. Mas penso que neste século (segundo uma idéia de Paulo Emílio Sales Gomes) a modernização em geral só modernizou a burguesia. Pertenço, por exemplo, a uma corporação que precisa procurar sempre outros recursos além dos relativamente modestos proporcionados pela atividade literária, são raros os escritores que ficaram ricos com o dinheiro dos livros. Os outros ficam aí se virando na voragem de uma vida que virou um artigo de luxo. Confesso que há muito me vejo reivindicando maior valorização no campo da palavra escrita, combati o bom combate. Quanto às mulheres propriamente burguesas, essas não precisam mesmo de nenhum amparo.

Não somos inocentes e por isso sabemos que há no Brasil três espécies em processo de extinção: a árvore, o índio e o escritor. Mas isso eu escrevi há alguns anos porque não é mais o escritor que está em processo de extinção, mas sim o leitor que está em fuga desabalada. Quanto à árvore creio que não é preciso acrescentar mais nada, que tristeza ver as florestas sendo devastadas. E o índio?

Quando andei pela África, um dos homens da Unesco me disse: 'Cada vez que morre um velho africano é assim como uma biblioteca que se incendeia'. Será que antes de chegarmos à solução final do nosso problema indígena teremos ainda tempo de captar um pouco desse legado? Um pouco da sua arte e da sua vida nas quais o sagrado e a beleza se confundem para alimentar a nossa cultura e o nosso remorso.

E resistimos, testemunhas e participantes deste tempo e desta sociedade com o que tem de bom e de ruim. E tem ruim à beça, inspiração é o que não falta aos que escrevem. E falei agora uma palavra que saiu de moda e é insubstituível, inspiração.

(...)

A loucura, o vício, a paixão, ah! eu teria que ter o fôlego de sete vidas, assim como os gatos, para escrever sobre esse mar oculto."


Lygia Fagundes Telles / Durante aquele estranho chá


Lygia sempre falando por mim.
Sem mais.

domingo, 6 de junho de 2010

De dentro pra fora



"Música começa pelo tesão. Se tu tem tesão, é esse o começo, é por onde se inicia o trabalho com música."

E foi durante uma noite comum em um dos bares de São Paulo, que um querido amigo e grande músico da atual safra de gigantes da música brasileira, me soltou essa afirmação. E hoje, tempos depois, me lembrei e me vi diante dessa frase pulando em meu cérebro; implorando por algo maior em torno disso. Suplicando por uma junção explicativa de como tudo surgiu, se conectou e virou palavras trabalhando em equipe pra dar todo sentido à quem lê. Pois bem.

O que te dá tesão? O que te faz gemer de prazer? Gritar de alegria? Hoje me questionei seriamente sobre isso. É como Rilke, em Cartas à um Jovem Poeta. Infelizmente, estou sem meu exemplar aqui (tenho costume de presentear queridos com este livro - já que é de bolso, barato e tão rico em palavras e lições) pra citar algum trecho. Mas, resumindo, Rilke pergunta: você morreria se não pudesse escrever? E o poeta responde - sim.

O que te faria morrer caso não pudesse fazer? Alguém aqui já parou pra indagar tal questão? E 'morrer' não significa um coração sem batimento. Não. Morrer está longe disso. Viver uma vida morta é tão fácil quanto respirar. Viver enquanto morto é acordar todos os dias simplesmente porque o despertador tocou e você tem um horário a cumprir. É concretizar um trabalho mais ou menos feito puramente para a garantia de um salário no fim do mês. É fazer tudo no automático; sem o prazer de tocar na marcha de segunda, terceira, quarta e quinta.

E o gosto, onde está? Os gemidos, os gritos, os risos de felicidade? Perderam-se no labirinto infinito de possibilidade humanas. Dissiparam-se dentre tantas responsabilidades e horários pré-definidos com tarefas incansavelmente entediantes. Responsabilidades essas na maioria das vezes sociais; onde a cobrança vem de fora, e não de dentro. E até que ponto é válido viver de fora pra dentro, e não de dentro pra fora?

A delícia do respirar está na espontaneidade. Na insônia filha da puta, que sim, vai proporcionar um dia sonolento amanhã. Mas que agora, nesse exato segundo das 02h57 da manhã de uma segunda-feira, está me dando o maior contentamento possível e inimaginável. Lidar com palavras e indagações humanas me dá tesão, me faz dar gritos de felicidade e me faz pensar na vida como uma única melodia. Aquela que durante seu curto tempo de notas, proporciona todas as sensações do mundo.

Eu quero sim meu dinheiro suado no final do mês. Eu quero a minha garantia de vida material - quem diz que não, é hipócrita - e o conforto de uma tranquilidade sã. Mas eu quero que tudo isso venha de um deleite suave e ao mesmo tempo gritante. Que venha de goles de vinho numa madrugada fria recheada de gargalhadas intermináveis. De noites solitárias acompanhadas de arte em todas as formas. Da inspiração causada por um sorriso até então desconhecido. De prosas poéticas. Eu quero que todo o trabalho saia do meu diafragma, e não dos meus ouvidos.

De dentro pra fora. É assim que as coisas deveriam ser pra todos. Sem cobranças, sem tristezas e sem a tecla de on/off. Eu voto pela obrigação de ficarmos ligados 24 horas por dia.

Porque enquanto a gente se questiona se faz o certo ou o errado de acordo com bocas que não são nossas, a vida passa e ninguém nem percebe.

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"Caso o seu cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele, reclame de si mesmo, diga para si mesmo que não é poeta o bastante para evocar suas riquezas; pois para o criador não há nenhuma pobreza e nenhum ambiente pobre, insignificante. Mesmo que estivesse em uma prisão, cujos muros não permitissem que nenhum dos ruídos do mundo chegassem a seus ouvidos, o senhor não teria sempre a sua infância, essa riqueza preciosa, régia, esse tesouro das recordações? Volte para ela a atenção. Procure trazer à tona as sensações submersas desse passado tão vasto; sua personalidade ganhará firmeza, sua solidão sem ampliará e se tornará uma habitação a meia-luz, da qual passa longe o burburinho dos outros."
(Rainer Maria Rilke)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

mysanctuary

Não costumo fazer esse tipo de texto pro blog, mas vou abrir uma exceção. Primeiro porque não tenho onde me expressar totalmente sobre o assunto. Segundo porque tenho muito o que falar, e enfim. Vamo lá. Quem não assiste Grey's Anatomy pode se retirar, porque isso é praticamente uma review do final da 6ª temporada.


Pra ser bem sincera, eu odiei a 6ª temporada do início ao fim. Achei a junção do Seattle Grace com o Mercy West uma puta zona, e o Chief estava totalmente perdido em todas as suas ações. Os novos personagens não eram nada atraentes e só deixavam a trama menos interessante, com tanta gente envolvida. Fora a situação da Katherine Heigl, que simplesmente decidiu abandonar a Izzie sem dó nem piedade. A Izzie sempre foi uma das minhas preferidas, uma das personagens mais fortes da série, e doeu ver uma saída tão sem explicação.

Mas, como sempre, tenho um caso eterno de amor e ódio com Grey's. Eu sempre odeio, mas na verdade é porque amo demais. E claro, com essa season finale não seria diferente.

Honestamente, não esperava um grande final. E dessa vez não me aguentei: li todos os spoilers possíveis, assisti todos os trechos disponíveis e fiquei tão ansiosa pra saber o que aconteceria que assisti ao vivo. O que na verdade é uma merda, porque a imagem é péssima e pode sair do ar a qualquer momento (lógico que meu computador desligou sozinho em um dos ápices finais, murphy me ama).

Logo quando saiu os primeiros oito minutos do episódio eu fiquei chocada. Sério. Como em menos de dez minutos o cara mete bala na testa da Reed e atira no Karev? Cheguei a pensar que era pegadinha da Shonda. Quem conhece a mulher, sabe do que ela é capaz. De duas, uma: ou era uma brincadeira de muito mal gosto, ou era porque vinha muito mais tragédia por aí. E bom, a segunda opção é a real.

O episódio inteiro foi de muita tensão. E muito sangrento, achei bem pesado mesmo. A morte de Reed foi cruel. Nunca gostei da personagem, mas achei muita crueldade. Pior do que isso, ver sua melhor amiga tropeçando em seu corpo. Se eu nunca gostei da ruiva, quem dirá da April. Ela me irritava com tantas babaquices e inseguranças. Mas nesse fim de temporada, ela me ganhou. Ela interpretou bem demais seu estado de choque, merece muitas palmas pelo trabalho. Conseguiu se manter firme no nervosismo pra ajudar a salvar o Owen. Foi muito bacana de ver.

Ver o Karev se arrastando pro elevador foi dolorido, ele é um dos meus personagens favoritos e eu já cansei de vê-lo sofrendo. Ele passou por uma infância fodida, sofrendo com pais loucos. Casou com a mulher que ele ama enquanto ela estava morrendo de câncer, pra depois ser curada e abandoná-lo. Chega, né?! Ele precisa de um final feliz, mais do que ninguém ali naquele hospital. Ele amadureceu em proporções gigantescas nesse período de seis anos de série. Ele é um dos caras mais sensatos da trama. Ele merece e eu espero que a Shonda dê um final feliz à ele. Está mais do que claro que essa relação com a Lexie é simplesmente um tapa-buraco. Os últimos dois relacionamentos dele (quem lembra da insana da Ava/Rebecca/JaneDoe?) foram conturbados. E bom, a Lexie é uma garota linda, simples e SÃ. Por que ele iria negar? Ele quer algo saudável, e tem. Mas como eu já disse antes, não adianta ter o que quer se não sente, né?! E ele não sente pela Lexie.

Lexie. Ela também não sente pelo Alex. O amor da vida dela é o Mark e ponto final. Eu saquei que no momento em que ela diz que ama o Karev foi totalmente por desespero. Pela culpa que ela sentia por ter desligado os aparelhos da esposa do atirador. Pela culpa que ela sentia por ter feito Alex tomar um tiro. Eu entendo. Foi o calor do momento. Quem não percebeu isso?! Mas assistir a carinha do Sloan vendo essa cena doeu muito também. Minha vontade era de colocar ele no colo. Ainda tenho fé nesse casal que é um dos meus preferidos, Mark e little Grey. Lexie ama Alex, sim. Como ela ama todos os seus amigos ali dentro. Mas ela é apaixonada por Sloan.

Bailey. Eu já não tenho palavra alguma que defina a minha admiração pela Chandra Wilson. Ela merece um Emmy, um Oscar e todo e qualquer prêmio que a valorize como atriz. E eu digo, como grande conhecedora de todos os episódios de Grey's Anatomy, que a cena dela colocando o Percy no colo pra morrer, o confortando pra ele não ficar sozinho; deixando cristalina a sua impotência diante da vida dele; foi devastadora. Foi a MAIOR cena de toda a história da série, em seis anos. A mais bonita, vulnerável, delicada e intensa. Seria redundante eu alongar esse assunto, porque eu realmente não vejo mais meios de elogiar a cena, a atriz e todo o conjunto. Fantástico define.

Agora eu vou começar sobre o mais importante, ou pelo menos, o que a maioria julga mais importante.

Eu tinha plena certeza de que essa gravidez da Meredith não iria durar. Ela nunca quis nem casar, quanto mais ter filhos. E agora, vou basicamente resumir o que a própria Shonda comentou sobre o assunto: ela demorou muito tempo pra encontrar o Derek. Ela demorou muito tempo pra assumir seu sentimento por ele. Ela demorou muito tempo pra aceitar o seu amor. Ela demorou muito tempo pra descobrir que queria uma vida casada com ele. E com filhos? Não seria diferente. É um processo. Ela foi criada por uma mãe negligente. Ela se julgava incapaz de criar uma criança. Mas, precisou passar por esse aborto pra perceber que sim, ela quer uma vida com Derek. Ela quer filhos, ela quer uma família sólida. A vida não é isso? Nós não temos que perder pra passar a dar o devido valor? Com ela não foi e nunca seria diferente. E eu entendo completamente isso. Sempre entendi.

A grande maioria dos fãs se decepcionou com a perda do bebê, simplesmente porque quer ver o final feliz de Meredith e Derek. Porra, eles não são felizes? É o casal que mais amadureceu na trama. Eles são felizes e plenos. O que as pessoas têm que entender, é que essa série não é sobre amor. Não se trata somente de Meredith/Derek, Cristina/Owen, Callie/Arizona, etc. Grey's Anatomy fala sobre HUMANIDADE. As relações humanas e tudo que isso acarreta na nossa própria vida. O amor? É um dos muitos fatores que envolvem a vida humana. O hospital é mero detalhe, é o cenário. A medicina é o que proporciona as inúmeras e variadas circunstâncias. A profissão é intensa, requer muita força e maturidade. Eles lidam com a vida e com a morte todo dia. E não só com os pacientes, mas com os seus familiares. Eles lidam com a dor diariamente. E pra não bastar, não é somente a dor física; onde eles procedem com uma apendicectomia e está tudo resolvido. Não. É a dor humana. A dor de viver todos os dias numa corda bamba. A dor de lidar com a incerteza do respirar.

Se você reparar, dentre tantas coisas que escrevi, nem mencionei o triângulo Cristina/Owen/Teddy. Ou falei sobre Callie e Arizona. Simplesmente porque eu não acho que isso é o foco principal. Não é o amor entre casais que me atrai nessa série.

Mas, diante de tantas relações, eu preciso falar sobre o relacionamento mais bonito de Grey's: Meredith e Cristina. Elas são cúmplices. Foi muito desesperador assistir Yang com a arma no pescoço operando Derek; podendo levar um tiro a qualquer instante. Mas ela não desistiu por amor à sua melhor amiga. Aliás, palmas novamente pra Sandra Oh. Outra que merece destaque, tão genial em cena que é.

Sobre o Chief (o Webber. nunca consigo chamar ele pelo nome, pra mim ele é o eterno Chief), ele finalmente voltou às origens. Passou por cima de sua maior fraqueza, o álcool. Ver ele de volta como superior e botando ordem no lugar foi bonito de ver. Ele finalmente fez algo certo. E eu espero honestamente que na 7ª temporada, ele volte pro seu cargo. O lugar dele é lá.

Ah, um detalhe que esqueci completamente: o Avery ganhou todo o meu amor nessas duas horas de tensão. Primeiro porque ele acredita e sempre acreditou na capacidade da Cristina como cirurgiã cardiotorácica (aliás, eu apóio muito um romance entre os dois). Segundo que a sacada dele enquanto o Gary estava ameaçando atirar em todos de desligar os aparelhos, fazendo-o acreditar que Derek estava morto, foi GENIAL. Sua interpretação estava fantástica do início ao fim. Desde o seu olhar pro Shepherd quando descobriu que havia um assassino no hospital, até os berros pra Meredith calar a boca. Incrível.

Pois bem, que venha setembro agora.

Eu entendo cada vírgula do que a Shonda Rhimes faz nessa série. Eu entendo seus motivos. Maybe I'm dark and twisted, I don't know. Mas eu tenho solidariedade, sim. Cada coisa que ela faz, tem um sentido e um significado. Tem fraqueza e tem força. Tem o que há de mais bonito no ser humano: a vulnerabilidade. E por isso, eu sempre vou apoiar suas escritas e suas decisões perante todas as vidas dentro do Seattle Grace Hospital.


(Pra quem quiser entender melhor, acesse o blog dos escritores de Grey's: Grey's Writers. Lá, a cada episódio, eles comentam. O último, foi pela própria Shonda. Vale a pena, pra entender um pouquinho melhor de como é a rotina deles e o que os leva a fazer o que fazem.)

Foto: por Bruna, do site Apaixonados por Séries. My soul sister who freaks out with me everyday discussing Shonda's genius mind! rs

terça-feira, 18 de maio de 2010

A carta do meio



E digo com a maior convicção do mundo que você se expressa sim, extraordinariamente bem, verbalmente. Mas isso não anula suas palavras postas no papel. Desenvolvimento. É questão de desenvolvimento, eu creio. E todos esses medos, receios e angústias... todos eles podem ser administrados com um simples vocábulo posto no papel ou na tela em branco de um e-mail frio.

Vomite tudo! Só vomitando a gente entende o mal que tem dentro. Enxergando cada detalhe que corroeu nosso estômago durante um enjôo filho da puta. E te digo... com a minha minúscula experiência... que foi com a palavra que passei a entender tanta coisa perdida. A palavra foi meu mapa principal pro caminho dessa tal plenitude, que nem completa ainda é. E graças a Deus que não é inteira, porque assim, a busca permanece contínua; e a gente não acomoda. Acomodação é outra cretina, que só nos trava e nos impede de seguir em frente esquecendo que atrás tem sempre um apressado passando por cima. E fé. A fé me trouxe um pedacinho dessa plenitude aí. Fé em mim, bicho. Fé em Deus. Fé numa continuação.

É... eu recomendo palavra e fé. Não tem segredo.
Parece simples, mas a real é que é complexo pra caralho, entende?
Precisa ter força pra ter fé. Mas força é um troço que tenho absoluta certeza que mora em você.

Por essa manhã, já deu.
See u next time.

quarta-feira, 24 de março de 2010

r-e-s-p-e-c-t




Eu realmente não queria entrar nesse assunto aqui no blog. Mas a polêmica está grande; e lembrando de algumas situações pessoais, sou obrigada e externar meu ponto de vista.

BBB. Dourado contra homossexuais. Gays contra Dourado.
Não assisto loucamente ao programa. Não sei de todos os detalhes, de todos os momentos ou de todas as palavras ditas dentro da casa. Conheço o que existe nas manchetes dos jornais, sites e revistas. E o que acontece é o seguinte: um é acusado de homofobia e outro faz escândalo e chora por ser injustiçado.

Acho super bacana a iniciativa da Globo de colocar três homossexuais assumidos no programa de sua maior audiência. Acho sim, que eles ainda precisam de mais respeito e espaço na sociedade. Respeito é bom e todo mundo gosta, não é? E eu vou direto ao ponto, pois é bem aí nessa palavra que eu quero chegar. Respeito.

E pra falar sobre isso, quero citar dois momentos que aconteceram na minha vida recentemente. Quem me conhece sabe que minha pele é cor branca européia. Mas branca mesmo; do nível colocar saia e todos na praia de Capacabana ficarem olhando. Já tive momentos em que pensei que alguém fosse virar pra mim e dizer: "Welcome to Brazil!". Sério, não estou exagerando. Há alguns meses, fui fazer um exame, e a doida da médica olhou pra minha cara espantadíssima perguntando se eu era "dessa cor mesmo". Ainda teve a audácia de questionar se eu tinha usado base. E eu, com a maior cara de cu do mundo, respondi que sim, passei base às seis da manhã (já eram seis da tarde). Outra situação engraçada: estava em férias em Vitória, no Espírito Santo. Eu e uns amigos fomos fazer um passeio de escuna, e paramos pra mergulhar. Eu estava lá, paradinha, curtindo um sol e a paisagem, quando o instrutor vira pra mim e na maior cara de pau, me pergunta: "você não vai mergulhar por que? Por que é branca?".

Oi? Deixar de mergulhar porque sou branca? E eu lá pergunto pra preto se ele vai deixar de brincar na neve porque é negro? Agora imagine essas duas situações contrárias. Se fosse eu, perguntando para um negro, se ele é dessa cor mesmo. Porra. No mínimo (no mínimo, hein) eu seria xingada de tudo quanto é nome. Em casos mais sérios, poderia ser linchada e presa por racismo. É como o caso daquela camiseta clichê onde tem escrito 100% negro. Imagina um branco usando uma dessa. O que aconteceria?

Pois então. Dicesar, uma das figuras homossexuais do BBB, já soltou que tem nojo até de encostar em Dourado. Agora vamos inverter a situação. Qual seria a reação do público nacional sobre Dourado ter nojo de Dicesar? Um lutador ter nojo de um homossexual? Mil pedras na mão, acusações, xingamentos, porrada na rua, e assim vai...

Eu entendo - completamente! - o espaço e o respeito que os gays e lésbicas exigem e tem direito na sociedade. Eles batalharam muito pra chegar onde chegaram, e ainda tem muita estrada pra percorrer, pois infelizmente o preconceito ainda existe e é absurdo o nível em que o racismo pode chegar. Mas será que antes de pedirem tal respeito, eles não deveriam fazer o mesmo? Eles batalham tanto pela igualdade dos seres humanos, e estão corretíssimos. Mas será que usar preconceito alheio como forma de ofensa ao ofensor não é tão desrespeitoso quanto um homofóbico batendo em um gay no meio da rua?

Eles - e não tô falando só dos gays, estou falando das vítimas de preconceito em geral: sejam gays, negros, brancos ou índios - chegaram num ponto onde usam sua vulnerabilidade de vítima como arma pra atingir os ofensores. Sendo que a arma mais poderosa pra combater isso é o próprio respeito.

É dando respeito que a gente recebe respeito.

R-e-s-p-e-c-t, find out what it means to me.
Porque eu não estou achando o real significado disso aqui no Brasil.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

absolutopresente




Como é que faz pra pensar rápido diante de um momento que pode mudar toda nossa perspectiva, nossa visão e nosso futuro-mais-que-perfeito? Existe fórmula pra saber o que dizer na hora certa e dizer o dizer tão correto dos dizeres dentro dos olhares? Como é que sintoniza a sintonia? Existe uma estação específica? Existe aquele segundo exato em que soltamos a frase exata pro momento exato acontecer na exatidão do destino que deveria ser e não é? Destino somos nós quem fazemos? Quem disse?

A crueldade da verdade.

Crueldade? Quem definiu a verdade como cruel?
A verdade foi feita pra ser nua. Nua... nossa nudez deveria ser diária. Nos atos, nas palavras, nos olhares. Tem nudez mais bonita que a do ser humano? Virar do avesso! Quem há de ter a coragem de se despir de todos os medos, aflições, desejos e todos os infinitos sentimentos dentro do que chamam de humanidade? Tira, arranca todos os tecidos, todos os acessórios e se mostre pro mundo! Na perfeição da simplicidade e do natural.

A verdade deveria ser dita como que num impulso na hora da sede e da fome. Engulo verdades como engulo meu almoço. Necessito delas como preciso da minha janta todos os dias. O fazer de fato acontecer. E viver. O presente-mais-que-perfeito. Sem imaginações de um futuro incerto, mas sim o absoluto presente.

O absoluto presente.

Quanto mais perguntas, menos respostas.
Se todos tirássemos as roupas... não haveriam perguntas, e somente respostas. Teria algum tipo de excitação nisso?

Perguntas, perguntas... existe algum tipo de certeza?

Pessoalmente, eu diria que na nudez da humanidade, há mais excitação do que em qualquer tipo de sexo, chocolate ou abismos. Mas, se todos gostassem do verde, o que seria do vermelho, não é?

E nesse meio todo de variações, nós continuamos a brincar de adaptação, de contorcionismos e jogos de vocábulos.

Brincar de ser humano.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

cartaaumagrandeamiga

Esse post na verdade é um recado de orkut. Começou como um scrap, e se estendeu - como eu mesma defini - como carta. Por enquanto são duas, e quem sabe um dia, eu poste a primeira. Mas, fica aqui meu último rabisco, à uma grande companheira.

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Ah, bicho... mas você não me explicou o tombo!
Sei lá, me sinto meio bossa na década de 70, entende? Ou rock 'n roll. Uma coisa meio Rita Lee escrevendo pra Elis nos tempos de prisão. Ou melhor, Elis escrevendo pra Rita. Cartas que ficarão pra sempre agora são scraps... nada poético, eu diria. Aliás, de atraentes, scraps não têm nada. Têm de idiotas, isso sim. Cadê o charme dos garranchos em tinta no papel? Tão romântico. Cadê o romantismo, minha gente? Só lamento o fato de tudo ter se tornado tão obsoleto. O que antes era precioso, e guardava história pro futuro; hoje se tornou banal. Rascunho mal escrito por gente que nem pensa no que escreve, ou nem escreve no que pensa.

E eu tento manter o mínimo de beleza no que há de mais puro nessa vida tão ridícula que se tornou o mundo. As palavras. Engulo-as com fome de trinta e duas horas sem refeições. Saboreio-as como uma criança experimenta seu primeiro brigadeiro da vida. E a cada vocábulo digerido, tento entender um pouco mais do ser humano. Um pouco mais desse mistério todo. Um pouco - um bocado, na verdade - do que um olhar realmente diz enquanto fita outro olhar. Há tanto num olhar como há na imensidão do mar.

Quem questiona? Quem nunca parou ou nunca se instigou em olhares, certamente. Tolos, eu diria. Tolo é quem nunca se apaixonou por um olhar. Por uma mensagem tão indescritível como a escrita num olhar. Mas náo sei exatamente o porquê de ter desembarcado nesse assunto. Só sei que nesse infinito de possibilidades, só o que quero é sentir! Demasiado. Humano. Tudo isso é simples... é demasiado humano! E como forma de nós mesmos, só temos que admitir o que somos e abraçar cada virtude que nos é dada.

Bicho, eu não sei exatamente porque essas palavras saem pra você, ou saem por aqui, ou saem sei lá porque. Eu só sei que saem, e se são palavras, me são válidas. E deveriam ser pro mundo. Pra novos ângulos de vida, de fé, de plenitude. Plenitude. É tudo que eu peço e desejo primeiramente a mim, e depois aos que amo.
E que seja assim; pra nós, e pra todo o resto.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

searchingforintimacy



Derek Sheperd. Não que ele seja o meu exemplo de homem, longe disso. Ele é tudo que eu abomino em um ser humano do sexo oposto. Ele é carente, coisa que sempre detestei, desde os primórdios. Ele é cômodo, daqueles que se contenta com alguém do lado, não importa quem. Ele é folgado e individualista: só pensa na própria felicidade, sem incluir terceiros ou quartos, que inevitavelmente, sempre estão envolvidos.

Mas, como toda pessoa nesse mundo - sim, todas, sem exceção, e nunca poderemos negar esse fato -, ele tem algo de bom. Tá, ele é um excelente neurocirurgião. Mas não estou aqui para mencionar qualidades profissionais, e sim pessoais. A principal é o falar com os olhos. Quem assiste Grey's Anatomy e é atento aos detalhes, deve concordar comigo. Ele consegue passar todo e qualquer tipo de sentimento pelo olhar. Raiva, amor, rancor, carinho, preocupação... é lindo de ver, imagine só ter esse olhar.

Até lembrei de uma frase do livro As Meninas, da Lygia Fagundes Telles, que eu tanto adoro e tanto concordo e tanto prezo pra que um dia se realize: "Em verdade vos digo que chegará o dia em que a nudez dos olhos será mais excitante do que a do sexo."

Mas não era bem sobre isso que eu queria comentar.

No final da quarta temporada, mais precisamente na primeira parte do episódio Freedom (esse meu vício por Grey's Anatomy passa dos limites, eu sei), Derek e Meredith - casal principal da trama - estão conversando sobre sexo. Na verdade, eles estão escondendo dois pacientes adolescentes que resolveram transar pela primeira vez antes de uma cirurgia importante que pode custar a vida dos dois. E ao falar sobre o assunto, ele menciona que não gosta do 'novo'. "I've never been a fan of new. I like to know the person, their bodies... what makes them moan." Bem, deixe-me explicar. O 'novo' seria aquela primeira vez. Aquele mistério de um corpo desconhecido. Aquela incógnita, de não saber onde tocar, ou o que fazer pra pessoa ter prazer do jeito que ela gosta.

Eu concordo muito com o que ele diz nesse momento. O novo é tão sem graça! Há quem creia que o mistério é excitante; e até certo ponto, é sim. Mas, eventualmente, me cansa. "O mistério me entedia. Dá trabalho." (A menina que roubava livros - por Markus Zusak). No que posso trabalhar com o que eu não sei?! No que posso maquinar com o espaço em branco?! No que posso pensar e criticar com um ponto de interrogação?! Nada!

Não tenho paciência para resolver linhas vazias. Mas analisar fatos, examinar o concreto, o que é de fato visível e palpável... isso sim, é extremamente excitante! Saber exatamente onde tocar. Saber perfeitamente qual o local que faz a pessoa gemer. Saber fielmente o ponto G e poder satisfazer de uma maneira que só quem conhece muito bem o objeto, pode proporcionar.

Não estou falando especificamente de sexo, veja bem. Estou falando de intimidade, seja ela qual for. A intimidade está em todos os lugares. Na menor possível - que pode ser o diálogo desconfortável sobre um documento errado com o funcionário da baia ao lado -, ou da maior - o sexo diário com seu namorado/marido/caso. Intimidade não se compra, não se implora e muito menos aparece gratuitamente. Intimidade se conquista.

E essa conquista é deliciosamente excitante.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

bomsensopoético

Minha cabeça está perto de explodir, acho que é enxaqueca. Mas essa voz não me sai da mente. É uma voz melódica, porém reta. É uma voz radiante, porém limitada.

Sabe o que é?! Bom senso poético! O bom senso poético não me sai da cabeça. Porque ela, eu definiria assim, como bom senso poético. Aquele que é totalmente racional, porém, não é rude. Dom de raros. Dádiva de poucos. Aquele que sai ritmado. As palavras quase rimam, se você prestar bem atenção na forma como elas são soltas. É como uma bossa. Uma gostosura de se ouvir, tudo se encaixa perfeitamente. Melodia, harmonia, palavra. Letra por letra, uma do lado da outra formando um quadro perfeito, sem nenhuma imperfeição.

É uma parte do quebra-cabeça que se sustenta sozinha. Faz falta sim. Se eu dissesse que não, estaria mentindo. Mas faz, e como faz! Eu era agraciada por Deus, por ter tanta doçura em minha vida. Eu era sortuda, eu tinha um pilar. Eu possuia uma raridade em minhas mãos.

Brincar com a sorte dá nisso, sempre. Eu muitas vezes afirmei. Era cena de um filme o qual já tinha visto diversas vezes, como Hayley Mills em The Parent Trap. Sabia de cor e salteado. Let’s get together, yeah yeah yeah, why don't you and I combine? Mas como toda película, teve seu final.

Arrependimento? Não. Definitivamente não. Onde é que eu estaria, não fossem meus erros que sustentam o degrau onde me encontro nesse momento? Lá embaixo, certamente! Escolhas são renúncias. Renúncias são escolhas. Então, assim seja!

Bom senso poético. Palavras redobradas dia após dia... ele permanece vivo, sim. Nas minhas ações, nos meus pensamentos, nas minhas inspirações numa madrugada quente. Num passeio gelado em tardes na avenida Paulista. Nos mergulhos em céu aberto enquanto as ondas batem num movimento contínuo. Contínuo... quem é que determinou o final mesmo?! É tudo contínuo! Como os remakes. Heyley Mills foi substituída por Lindsay Lohan na nova geração. Nada é definitivo, meus senhores! Graças aos céus. Graças aos deuses. Graças à aquilo que te dá fé numa continuação!

Contínuo e melódico!
Como sempre foi, como sempre será...