quinta-feira, 10 de março de 2011

bomdiasóamanhã



Olívia nunca teve problemas de sono. Sempre dormiu excepcionalmente bem.

Mas nesta última noite, um susto a surpreendeu. Como de costume, deixou a janela aberta - ela gosta de sentir o sol no rosto junto com o dia nascendo. Teve um pesadelo tão forte e assustador que acordou trêmula - e paradoxalmente, dura. Seu corpo estava tenso e ao abrir os olhos, só conseguia sentir o pavor de se movimentar e perceber que aquilo era uma realidade.

Claro que tudo não passava de um sonho ruim. Mas com uma ótima imaginação sua primeira reação foi olhar pela janela. Na iluminação da lua (eram três da manhã) ela levantou prontamente pra ligar o velho televisor largado numa estante caindo aos pedaços e correu pra fechar a principal porta do seu medo. Fechava os olhos tentando se concentrar pra voltar a dormir e só conseguia reviver aquele momento tenso de perseguição e ameaças. Mas, após alguns minutos, adormeceu novamente.

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As luzes da sala principal de casa estavam claras como nunca, quase cegando nossos olhos. Mamãe anuncia a chegada do tio com as primas. E então ele apareceu, de sopetão, logo atrás. Com seu sorriso e sua felicidade que sempre foram radiantes. Ele tinha ingressos pra toda a família ver o show do Arnaldo Antunes. De onde surgiu o Arnaldo nessa história seria praticamente impossível explicar; mas isso é irrelevante. Pois além dele voltar para nós, ainda fez questão de nos presentear com um show, um perfeito programa em família.

O que na real, era quase - senão total - insignificante, perto da alegria que sua presença física e espiritual nos trazia. O tio chorava como criança, eu jamais me esquecerei de sua expressão ao dividir e soltar sua extrema felicidade.

E o mais engraçado desse sonho? Todos os meus familiares falavam e riam. Menos papai. Papai foi o único a silenciar. E isso me agradava muito mais: me fazia crer que aquela era de fato, uma visita. Pra mim. Pra nós.


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Os mortos quando silenciam dizem muito mais do que qualquer ser humano vivo, respirante, falante, atuante. Ele veio pra acalmar o pesadelo, e a menina tinha certeza disso.

Olívia acordou com vontade de se juntar à grande festa que, certamente, acontecia lá no andar de cima. Mas principalmente: despertou motivada a viver tudo que possui a qualquer custo; quis respirar cada gota de ar que chegasse até ela e celebrar as pequenas (grandes!) coisas da vida. Assim como seu pai, que em sua curta vida, fez tudo tão intensa e belamente.

Olívia acordou com saudades vazias.
Bom dia? Só amanhã.