sábado, 23 de abril de 2011

prettymuchit

"As palavras seduzem, encantam, aproximam - e por isso são realmente perigosas. Porém as palavras também chocam, horrorizam e distanciam - e aí passamos a correr outro tipo de perigo, o da não comunicação, da incompreensão.
Deus é silencioso, mas principiou tudo com o verbo: toda palavra, falada ou escrita, está cheia de inferno e céu. As palavras revelam. As palavras escondem. Por isso, toda palavra é, em si, um mistério. O (claro) enigma que falava o nosso poeta.
As palavras tem, ao mesmo tempo, um significado raso e outros, bastante profundos.As palavras são (ainda bem!) ambíguas. Duplo sentido: as palavras falam e não falam aquilo que estão dizendo. Lutar com as palavras é a luta mais vã."


Por Matinas Suzuki Jr.

domingo, 10 de abril de 2011

lorena

Lorena gosta das noites de sábado em casa. Nelas, ela não está cansada. Nelas, seus olhos não insistem em fechar a cada página virada de um livro. Nelas, seu corpo não suplica por descanso. Nelas, as madrugadas são longas e silenciosas.

O barulho da chuva lá fora é poético e acolhedor. Acolhe Lorena como uma nuvem protege seu anjo. Acolhe com a inspiração de textos absorvidos; de palavras engolidas com gosto; de vocábulos soltos em uma mente perturbada em tantas teorias utópicas e ao mesmo tempo tão reais e plausíveis.

Sozinha. Hoje, só, Lorena está tagarelando. Está poetizando. Analisando. Está verbalizando... andando... andando... e está sóbria, o que é pior! Ela precisa perder um pouco da lucidez, que a tem acompanhado todos os dias de sua vida nos últimos meses. Sair um pouco de si, embora ela realmente não goste de perder o controle de suas ações – e principalmente – de suas palavras. Mas hoje, excepcionalmente, está sentindo essa vontade.

Enquanto as horas passam, Lorena espera por algum tipo de inspiração que arranque de sua alma toda essa junção de sentimentos e vontades. É um misto de paradoxos e redundâncias. Coisas definidas e não definidas. A imaginação luta contra a realidade. Ou a realidade luta contra a imaginação? É um bocado de plano e força pra sonhar, e falta de força pra chegar ao fim (fim? depende do ângulo). Falta força e coragem pra lutar com garra e alcançar o que no momento é inatingível, mas no fundo nós sabemos que se fizermos o mínimo de esforço, conseguimos atingir.

Sobra medo da falha. Ou medo do tempo de espera. Sobra – e como sobra! – ansiedade e expectativa. Ansiedade é o fraco de Lorena. Ela não tem paciência, ela tem pressa. Muita pressa. Imediatismo a trava, é o que a impede, é o que tira sua força de tentar o sonho.

Sobre desejo e falta permissão. Permissão de voar por entre os picos de atrações. Desejo de concretizar o imaginado.

Sobra tempo e falta paciência.

Lorena parou de fumar, mas acenderia um cigarro neste exato momento. E abriria uma garrafa de vinho para saborear cada gole da perda da sobriedade. Para talvez, no auge de sua embriaguez, ela – parafraseando Camelo – possa ter força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê.

24 de janeiro de 2010 – 01h59.