quarta-feira, 24 de novembro de 2010

I believe and how




Não saberia nem por onde começar.

Já faz três dias que vi Paul McCartney no palco e essa anestesia que ele me deixou permanece intacta. Desde que voltei do Morumbi, só consigo fazer uma coisa: ouvir as faixas do show e sorrir enquanto choro com as minhas memórias. Cada minuto do dia 21 de novembro foi precioso. Nos 45 do segundo tempo, McCartney conseguiu transformar 2010 em um ano valioso.

Quando as luzes do estádio se apagaram e surgiu aquela pessoinha com terno azul no palco eu não conseguia acreditar que era ele. Fiquei atônita por alguns minutos. Meu amigo que assistiu o show comigo ainda tentou me chacoalhar enquanto pulava, mas eu estava muito desacreditada pra fazer qualquer coisa. Levei um tempo pra me dar conta do que eu estava presenciando.

Eu cresci ouvindo música. Todo e qualquer tipo de música. Mas graças à papai, Beatles sempre reinou. Em todas as festas, churrascos, banhos de piscina, e em todos os aniversários - independentemente da idade do aniversariante, que fique claro! -, bicho, em qualquer momento... era Beatles na vitrola. Por isso, já na terceira música do show - All My Loving - eu já chorei (sorrindo, claro). Me levou pra um passado feliz.

E assim foi durante as quase três horas de show. Dancei em Drive My Car, me arrepiei em The Long and Winding Road, lembrei de amores passados em My Love. Pulei em Back in the USSR e Paperback Writer, pedi paz ao mundo junto com as bexigas brancas em Give Peace a Chance e vi a vida girar em Live And Let Die. Ganhei minha fé de volta em Let it Be e voltei à um tempo não vivido em Get Back, Day Tripper e Eleanor Rigby.

Mas principalmente: cantei e chorei (como nunca chorei em um show na minha vida!) quando ele fez a homenagem ao George Harrison. Something faz parte da minha vida, da minha história. E pra mim, estar ali naquele momento foi inesquecível. Eu já chorava nos primeiros acordes do ukelele do velhinho (sacanagem chamá-lo de velhinho com o pique que ele tem). Mas quando a banda entra e as fotos dos Beatles gritam pelo telão... INDESCRITÍVEL! Maravilhoso é pouco pro solo de guitarra e pros braços abertos de Paul enquanto imagens dele com George passam logo atrás. Está fora do meu alcance essa tentativa de colocar em palavras o que senti durante esses quatro ou cinco minutos. Resumindo: minha maquiagem borrou. E muito.

E claro, Hey Jude. É hino, não tem jeito. Inicialmente, fiquei aporrinhada de estar na arquibancada e não poder ver o ex-Beatle mais perto. Mas assistir o espetáculo que o público faz NÃO TEM PREÇO. Olhar para aquela multidão de 64 mil pessoas fazendo o clássico coro é arrepiante (quem não gosta do histórico 'naaaaaananana nananana' que atire a primeira pedra - mas atira logo na minha cabeça pra me matar, porque não aguentaria ver isso!). Aliás, se me perguntarem, eu diria que 50% do show quem faz é o povo. É emocionante ver aquele mar de gente com o único objetivo de curtir um som. Me lembro até de um momento, pouco antes do show começar, comentei com a Ana que me arrepia ver tanta gente junta ligada pela música. Nós divagamos no assunto... em como a música tem esse poder de conectar pessoas, momentos, lugares. Em como seria bonito se todos se unissem por outras causas como se unem pela música. (Valeu, Aninha, pelo papo cabeça e viajante... rs!)

Como eu já disse anteriormente, nunca mais vai existir outro Paul McCartney. E não digo ele, especificamente. Mas algum artista como tal, com a sua proporção e história. Alguém que faça um espetáculo como os que ele faz. Porque hoje em dia é muito fácil fazer música. Mais do que fazer, descobrir. Fazer sucesso é coisa simples com tantas possibilidades e tecnologias. Antigamente, sem a atual globalização, internet, youtube; eram poucos os que estavam nas paradas mundiais. E os que estavam fizeram história. E dos poucos que sobreviveram e continuam na ativa... Paul marca gerações! Emocionante é olhar pra frente, pro lado e pra trás e ver gente de todas as idades. Do meu lado esquerdo um casal de 50/60 anos com o filho adolescente. Na minha frente, outro casal com o filhinho de 4 anos (coisa mais linda com camiseta dos Beatles - queria ter tirado foto!). Aborrescentes, adultos, crianças, tiozões e idosos. Todos juntos; e aposto com um tiro no meu pé que uns 80% em lágrimas por presenciar tanta coisa boa.

Porque esse espetáculo tão fantástico e mágico, só é assim por sua história. E eu sou MUITO E IMENSAMENTE FELIZ por ter vivido isso em tempo. Me faz ter o gostinho de viver uma época a qual eu gostaria de ter vivido. Quando as coisas eram mais simples, e tão, mas tão mais valiosas.

Paul McCartney é o cúmulo da simpatia, do pique (o bicho tem mais energia que a velha de 22 anos que vos fala!), da potência vocal, do improviso, da leveza, da doçura. Seriam muitos adjetivos a colocar aqui. Se é tudo ensaiado e igual em todos os shows? Sim, e quem se importa? É UM BEATLE! VIVO! Marcando a vida de 64 mil pessoas.

E eu só sei que por três horas, eu abandonei o mundo fora do Morumbi. Eu esqueci que tenho contas a pagar, decisões a tomar, problemas a resolver. Eu sequer lembrava que tinha que trabalhar no dia seguinte. Por 180 minutos eu voltei a sentir todas as sensações deliciosas que o respirar permite. E que a realidade nos tira com tanta agressão.

Por três horas eu fui de fato e completamente feliz.