terça-feira, 4 de setembro de 2012

ibelieve

Eu acredito.

Eu acredito que apesar da dor, dá pra viver sem amarguras e esquecer o que passou – porque o verbo ‘passar’ aqui já se auto-explica: tá lá no passado.

Eu acredito no amor e no poder que ele nos dá. Li esses dias em algum lugar que o amor vem antes da vida. Nós somos feitos, nós nascemos do amor. Ele tá ali, muito antes da gente ter qualquer tipo de consciência/inteligência.

Eu acredito que dá pra viver triste, porque a tristeza é abafada por bons momentos no dia a dia. Mesmo aquela piada sem graça com seu parceiro de trabalho pode melhorar seu humor e sua tristeza ser esquecida por alguns minutos.

Eu acredito na energia entre seres humanos e como isso pode nos alterar. Eu acredito que a transmissão de todo e qualquer sentimento é muito mais importante do que qualquer recebimento: a gente só ganha o que dá.

Eu acredito em fases ruins para aprendizado. Pra tapa na cara. Pra superação de si mesmo. Pra sacar que não, a vida o mundo a galáxia NÃO gira ao seu redor e você tem que limpar a própria bunda, wheather you like it or not.

Eu acredito em Deus e não, não creio que ele escreve certo por linhas tortas. Creio que está tudo muito bem alinhado, e somos nós – meros, relapsos, ignorantes, cegos – seres humanos que não sabemos enxergar o que está a dois palmos de nossos olhos.

Eu acredito em tristeza e também creio que ela está ali por alguma razão. Sabe aquela coisa “a única vantagem de ter um martelo batendo sem parar em sua cabeça é o alívio de quando ele para”? É exatamente isso.

Eu acredito em dúvidas, pois sem elas não teríamos motivos pra acordar. Ou uma vida totalmente previsível é excitante pra você? Escolhas são renúncias (blábláblá) e maturidade pra renunciar é uma das coisas mais difíceis de se conquistar.

Eu acredito em impotência diante de situações e eu quero muito acreditar que elas estão ali por alguma razão - e que essa não seja um mero 'esqueça esse capítulo'.

Eu acredito.

domingo, 12 de agosto de 2012

Redescobrindo o sal que está na própria pele


A primeira vez que ouvi Elis eu devia ter uns 14 anos. Foi em uma aula em que a professora colocou Como Nossos Pais enquanto explicava sobre literatura na época da ditadura militar. Essas coisas que todo mundo já sabe e eu não preciso comentar.

Desde então passei a ouvir/entender/amar a música popular brasileira. A história, a luta, os recados por entre as linhas de tantos clássicos desse país imensamente rico: musical e culturalmente falando.

Elis foi porta de entrada e quando descobri ela já estava morta há quase vinte anos.

Pouco depois surgiu a 'filha da Elis', como todos chamavam. Essa eu pude acompanhar de perto e quem me conhece sabe. Vi cada show, cada música de seu repertório inédito, cada lágrima a cada crítica feita por ela ter nascido do ventre da melhor cantora que o Brasil já teve - e jamais terá outra igual. Acompanhei cada entrevista em que ela dizia se recusar a cantar qualquer canção do repertório de sua mãe. As comparações já eram devastadoras (tem sempre os infelizes e fanáticos, certo?!) e ela parecia irredutível diante de qualquer possibilidade em chegar perto da memória musical de Elis.

Quase dez anos se passaram desde que Maria Rita se lançou no mercado fonográfico. E cá está ela, completamente segura de si, fazendo um show em homenagem não só à sua mãe; mas à melhor cantora do Brasil. Elis Regina.

Não vim aqui para descrever técnicas, set list, iluminação, arranjos (apesar da banda ser maravilhosa), etc. Vim apenas para dizer o óbvio: Maria Rita se superou ao fazer o repertório da mãe em um concerto de duas horas. Eu vi de perto seu olhar à qualquer menção de Elis, sua mãe, a cantora, a artista. E como fã que eu era, entendia e compreendia o medo de, musicalmente, ela se lançar pro mundo com um repertório tão importante como o da maior cantora do país.

Não acompanhei Elis. Conheço talvez 65% de todo o seu repertório. Mas em questão de vê-la, ao vivo, se esgoelando... vi poucos vídeos. E achei incrível a naturalidade de Maria Rita ao cantar a sua mãe - em nenhum momento no show lembro dela mencionar "Elis" - somente "minha mãe". Porque era o que ela estava fazendo: homenageando sua mãe, que infelizmente, lhe foi tirada antes da hora.

Maria Rita foi ela mesma no palco, desde seu primeiro "Maria Rita" em 2002. E as músicas de sua mãe couberam em sua voz como mágica. Coisa que nunca imaginei, para ser honesta. Deve ser a tal da genética. Deve ser o tal do talento.

Não vivi a época da ditadura. Não vi Elis cantando e brigando pelo Henfil. Não vi Elis gravando com Tom. Não vi Elis brincando de roda enquanto cantava Gonzaguinha. Não vi Elis lagrimando em Atrás da Porta. Não presenciei nem sequer a sua morte.

Mas participei da trajetória de sua filha. E hoje, pude presenciar um pedacinho da Elis no palco. Um pedacinho do seu cabelo, do seu sorriso, do seu jeito desengonçado, da sua voz. Um pedacinho de um tempo o qual não vivi.

E foi brilhantemente sutil. E genuinamente emocionante.
E eu, tendo Maria Rita como ídola de adolescência, me orgulho do que ela musicalmente se tornou. E do que ela conseguiu passar por cima para chegar ali, onde todos nós que a vimos de cachinhos curtinhos fazendo a Festa do Milton, nem imaginávamos que fosse possível.

Canta, que a vida passa
E se ela passa
Melhor cantar

domingo, 11 de março de 2012

a dor que dói mais

Hoje vou deixar Martha Medeiros falar por mim.



"Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer."

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A polêmica de Bastos


Graças a Deus nós vivemos em um país democrático (ou quase lá) e possuímos um tipo de liberdade que algumas sociedades no mundo não tem: a de expressão.

A liberdade de expressão vive entre nós e devíamos agradecer por tal privilégio. Nosso país, apesar de todos os problemas socio-econômicos, é liberal e não prende ninguém a defender seu ponto de vista.

A polêmica de Rafinha Bastos atacou geral e arquibancada. Humorista afiado – e contra humor eu nada tenho! Acho fundamental e se me perguntar, eu tento rir de mim mesma o dia todo para as horas ficarem mais leves – não há melhor remédio pra isso. Mas acredito que a partir do momento em que sua opinião é dada publicamente, o bom senso e o limite devem andar de mãos dadas com a piada. Respeito é bom e todo mundo gosta, não é?

Mas são dois fatos que me deixam intrigada.

Primeiro: a Wanessa Camargo foi ofendida como milhares de outras mulheres foram ofendidas por ele. A única diferença é que ela (assim como Bastos) tem influência nacional e o processo virou manchete de qualquer revista e jornal. O estardalhaço se inicia a partir do momento que uma mulher conhecida nacionalmente luta pelo respeito que deveria ter recebido. Respeito que milhares de outras também deveriam ter obtido – mas como não estão na mídia, não existem, não é?!

Segundo: comparar política com a polêmica. A frase que anda rolando pelas redes sociais é a seguinte: “Brasil: um país onde políticos são levados na brincadeira e humoristas levados a sério”. Não tiro a razão da frase, muita calma. Realmente, se todos se movessem contra políticos da forma como fizeram com Bastos, teríamos um rascunho para iniciar uma mudança na política brasileira. Mas a questão é que ninguém mexe um músculo para tal.

Por que? Porque é fácil ligar a televisão numa segunda-feira e sacar piadas. É fácil ver neguinho enfrentando celebridades e políticos com assuntos variados em forma de humor. É uma linguagem simples, não é?

Mas estudar e avaliar histórico e objetivos de candidatos atuais para a próxima eleição, ah, isso é difícil.

Então, eu só tenho mais um adendo a isso tudo: se 1/4 dessas pessoas que estão comparando Rafinha Bastos com política conseguir me responder em quem votou na última eleição (estou sendo boazinha – pensei em questionar as três últimas), ganha um beijo.

E como diz minha querida Marcela Leite, tem que ser como o BBB.
Me diz em quem você votou e por quê.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

faz

"Sometimes you have to be apart from the people you love, but that doesn't make you love them any less. Sometimes it makes you love them more."

E faz. E faz, pois memórias te refrescam a beleza do sorriso.

E faz, pois a saudade te permite um olhar de longe; onde as montanhas são mais bem desenhadas, o oceano é mais azul e o céu mais brilhoso - tu ficas ainda mais encantador quando posso te lembrar distante. Quando posso te lembrar encostado no pilar, numa prosa, naquela postura que só tu ficas tão charmoso.

Faz, pois a saudade é conectada ao amor que é proporcional à distância. Quanto maior a quilometragem, maior ainda o lado de dentro. O lado de dentro que quanto mais quieto tem de ficar, mais gritos quer soltar.

Faz. Simplesmente faz.

sábado, 24 de setembro de 2011

umbichinhochamadoamor



Ainda consigo sentir o teu abraço quando nos despedimos. Apertado e eterno. Eterno em minha mente, pois a realidade é que foi um abraço tão rápido quanto um raio – um certo tipo de disfarce para a dor que o contemplava.

Encontrei esse bichinho da forma mais pura que se pode haver: da construção. Tijolo por tijolo, cimento por cimento. Cada pedacinho colado com outro de maneira mágica e simples. Primeiramente, a simpatia instantânea, nos fazendo sorrir gratuitamente a cada olhar que se encontrava. Grudada a ela, a compatibilidade em visão de vida e música. De mãos dadas, a sintonia – ah, a sintonia! Essa que o porquê nós nunca entendemos e nem nunca iremos. Simplesmente porque não se explica, se sente e se vive. E como vivemos!

Durante aproximadamente 180 dias, vivemos praticamente – ao meu ver, claro – uns 15 anos de cumplicidade, respeito, confiança, segurança, dedicação e admiração. 180 dias viraram 15 anos tamanha intensidade e vontade de que se torne real. Desejo esse impossível diante de uma realidade devastadora; diante de um destino que nos pregou peças e nos colocou em posições totalmente impossíveis e inadmissíveis vistas de um olhar de cima.

E em frente a esse dia, o qual o mesmo destino que nos colocou lado a lado nos separou, eu agradeço a Deus por mais uma oportunidade em amar. Em amar alguém cujo sorriso me encanta, cujas palavras me emocionam e cujos atos me tiram o ar. Jamais fui tratada com tanto carinho, zelo e dedicação. E uma parte de mim insiste em crer que não haverá mais ninguém como você – que me faça te amar, te desejar, te respeitar e te cuidar, tanto quanto eu fiz.

O segredo é que eu não achei que fosse sofrer dessa maneira novamente. Me coloquei como dona dos meus sentimentos, crendo que poderia dominá-los a qualquer momento. Tola. Tola que fui! A cada olhar que já não se cruza mais, um pedaço dentro de mim sangra. A cada mensagem não enviada uma lágrima teima em querer sair do seu ninho. Dói não ter em meus braços, dói sentir o cheiro e não poder tocar, dói amar e não poder continuar. Continuar uma vida que dentro de mim estava feita, uma vida com tantos planos frustrados por uma condição indesejada.

E mesmo diante de todos esses segundos cruéis de meu dia, eu agradeço. Agradeço por ter encontrado uma pessoa linda que me fez sorrir tanto. Agradeço por não ter tido medo de sofrer – se o mesmo tivesse me dominado, não teria vivido essa história que quero levar pra sempre. Essa história que, mesmo subjetivamente, incorreta, foi tão certa aos nossos olhos. Tão intensa e amorosa.

Se conselho fosse bom, não era de graça – não é o que dizem por aí? Mas fica a minha mensagem e a lição que eu aprendi com mais um episódio de vida: não tenha medo de sofrer. Você pode estar perdendo ouro enquanto teme. E esse ouro vale por uma vida toda, mesmo que dure apenas alguns dias.

Ficaram as canções, e você não ficou. Roberto tem sempre razão. Principalmente quando diz que ele canta sobre amor, porque é só sobre isso mesmo que ele sabe cantar.

E vale outra coisa na vida que não o amor?!